AK Pre-Flop: A Eterna Polêmica

Por Christian Kruel26/02/2008

Fala Galera da FLOP, tudo tranqüilo?

Não posso começar sem agradecer a todos que participaram da elaboração da bonita homenagem feita para mim e o Raul na última edição desta revista. Realmente nessas horas que nos damos conta do quanto foi duro nossa estrada até aqui e fica passando aquele filme da nossa vida na cabeça. E saber que esse filme despretensioso seria capaz de inspirar milhares de pessoas, é realmente muito gratificante! Mais uma vez, obrigado pela homenagem.

Bom, 2007 passou que nem um furacão, e foi um ano importantíssimo para o Hold’em no Brasil, diversos jogadores se consagraram no cenário nacional e internacional e diversas ações empreendedoras fazem por gerar grandes expectativas para o nosso esporte predileto em 2008.

Poderia ficar aqui citando jogador a jogador, ação por ação, mas acho que não vem ao caso, o importante é que muitas ações pró-Hold’em estão sendo motivadas! Uma delas e com certeza das principais é a própria revista FLOP, que acaba se tornando um veículo de comunicação fundamental no meio do nosso esporte e que circula nos lugares certos na hora certa, perfeito!

Inclusive, enquanto escrevo esta coluna aqui de Jurerê em Florianópolis, onde estou passando o Reveillon, todos os nossos ídolos estão em Bahamas buscando o prestigiado título deste EPT, quem sabe não sai daí a consagração definitiva do Brasil? Se eu pudesse escolher, com certeza escolheria Bahamas, pois foi lá que tudo começou para mim, com meu 8º lugar. Aquela mesa final abriu as portas no Brasil, com certeza e seria muito bacana o Brasil selar logo com chave de ouro isso por lá mesmo, que tal?? Alías, me doeu muito escolher ficar em Floripa e não ir para Bahamas este ano, mas tem momentos na vida que precisamos pensar em outros campos da vida que não são o Texas Hold’em, até porque torneios não faltarão durante o ano inteiro em 2008, certo?

Para mim, 2007 foi um ano bem atípico e muito intenso, foi um ano em que as coisas se sacudiram muito fora do campo do nosso Texas Hold’em e, talvez por isso, eu tenha deixado de jogar todos os torneios que queria pelo mundo, de cumprir minhas metas e até de atender as expectativas dos fãs desse esporte!

Mesmo assim, consegui no segundo semestre focar fortemente nos multi-tables e consegui bons resultados, mas ainda faltando uma grande vitória no meu ponto de vista, provavelmente por uma necessidade de ajuste de jogo no meu “end-game”, por falta de sorte em retas finais também sem dúvida nenhuma, o que pode acontecer facilmente num período de seis meses e diversos pequenos detalhes que vão influenciando e gerando o resultado final.

Também joguei muito cash game em 2007 e de fato eles se mostraram meu melhor rendimento por hora de 2007, por isso na internet, este deverá ser o campo aonde dedicarei maior tempo em 2008.

Já no ao vivo, quero viajar muito pelo mundo neste ano, curtir as viagens com Akkari, e todos os brasileiros que estiverem no circuito. Com companhia agradáveis fica bem mais prazeroso fazer essas empreitadas!! Estou me organizando para jogar oito eventos de 10K mais eventos preliminares!! Este ano não vai ter bla-blá e as coisas vão rolar!

Bom, para esta coluna não ficar só no papo furado, vou falar sobre uma conversa que tive outro dia com um amigo, enquanto discutíamos uma jogada. Acabou que o X da questão era eu tentando provar que, quase sempre, se deve jogar agressivamente o AK, em No Limit Hold’em. Vejam se vocês concordam comigo ou não:

Vamos dizer que o UTG tenha dado um raise de três vezes o valor do big blind. Três jogadores dão fold, você olha suas cartas e… AK. Você tem cerca de quinze vezes o valor do big blind. Como você joga? Muitos jogadores me dizem que seu “estilo” é apenas dar call e ver o flop. Caso consigam um bom flop, aí sim, iriam para cima dos adversários.
Eis alguns pensamentos matemáticos que mostram o porquê essa é uma estratégia ruim: Primeiro, note que um AKo irá fracassar pós-flop em torno de 2/3 das vezes. Levando em conta alguns blefes, e algumas quedas que poderemos ter, arredondando, podemos dizer que o flop será horrível para nós em 60% das vezes.

Depois, vamos determinar que o primeiro jogador a falar tenha em suas mãos uma típica mão de under the gun, o que abrange par de 77 ou maior, AK, AQ ou AJ suited.

Se nós conseguirmos um bom flop com o nosso AK, o par de 77, até o par de QQ, irá detestar o flop (a não ser que ele flop uma trinca). Ele irá sair da mão, na maioria das vezes, algo em torno de 75% das vezes, à medida que ver que iremos dar ação à mão e que provavelmente estaríamos com top pair. Os outros 25% ficam para os que tentarem representar um top pair.

Então vamos à matemática. Quando damos call com AK pré-flop, 60% das vezes nós perdemos “apenas” 3 vezes o big blind para ver o flop; 10% das vezes nós conseguiremos um bom flop e nosso oponente irá dar “check-fold”. Nós ganhamos 4,5 vezes o big blind (o “raise” do nosso oponente mais os blinds). Os outros 30% das vezes são quando nosso oponente aposta depois de conseguirmos o nosso flop.

Se você olhar o alcance das mãos que estamos dando a ele, e assumindo que ele irá dar call no nosso raise apenas com uma trinca, um par alto ou um top pair, nós iremos ver que, por volta de 8% dos flops, ambos acabarão no all in. Nesses flops, nós temos algo em torno de 40% de chance. Se nosso oponente quis ir para o all in conosco, nós somos underdog para ganhar o pote. Vamos lá, em 22% dos flops, ele irá sair da mão e dar fold no nosso raise. Vamos dizer que ele escolha apostar 4,5 big blinds. Nesse caso nós ganhamos 9 big blinds na mão (4,5 da aposta dele, 3 da aposta dele pré-flop e 1,5 dos blinds que saíram da mão pré-flop).

Somando todos os big blinds que possamos ganhar ou perder, em todos os cenários possíveis, você descobrirá que dar call com AK contra o raise do jogador under the gun o fará vencer 0,4 big blinds por mão no longo prazo, o que não é ruim. Porém, um AK é uma grande mão. Nós não estaremos satisfeitos em vencer nada menos do que um small blind com o nosso AK.

Agora vamos comparar, um simples call, com a jogada que eu recomendo, que é o all in pré-flop. Se nós movermos all in, irei assumir que o jogador under the gun irá jogar fora seu par de 77, 88, 99, AJs, e AQo, mas irá dar call com AQs, AK, e par de TT ou superior. Se olharmos o quanto ganhamos quando ele dá fold, comparado com o quanto perdemos quando ele dá call, descobre-se que, no longo prazo, nós ganharemos 1,2 big blinds por mão, quando vamos para cima com o AK. Ou seja, o triplo do que ganhamos, por mão, quando damos apenas o call.

A maior razão de isso funcionar dessa maneira é que nós temos contra o jogador UTG 45% de chances de ele dar fold pré-flop, depois de entrarmos de all in. Se você não acredita nisso, me diga com quais das mãos, que eu pressuponho que ele daria fold, que você acha que ele daria call? AQ, par de 99, de 88? Se ele pagar com qualquer uma dessas mãos ainda teremos grandes chances de sairmos vitoriosos, após as cartas serem viradas na mesa. Temos sempre que adicionar, às nossas chances, a possibilidade do adversário jogar fora a mão, antes do flop.

Vamos dar uma olhada melhor nos cálculos expostos acima. Quando nós damos all in pré-flop, o UTG joga fora 45% das vezes e nós ganhamos 4,5 big blinds. Os outros 55% das vezes, nós perdemos um pouco, em torno de 1,5 big blinds. Como você pode notar, a relação é positiva. As vezes em que perdemos são totalmente compensadas pelas vezes que ganhamos 4,5 big blinds, sem irmos para o confronto. Ainda quando nosso oponente tiver par de TT, JJ ou QQ, nós iremos ganhar a mão por volta de 43% das vezes. Se nós tivéssemos apenas dado call, nós só ganharíamos a mão em 30% das vezes. AKo tem 43% de chances de ganhar de QQ até o river, mas somente 31% após o flop. Nós precisamos nos dar a chance de conseguir um ás no turn ou no river e, caso isso aconteça, sermos recompensados e bem pagos por isso. Nós não iremos ser pagos pelo nosso oponente com um par de 77, 88 ou 99, após cair no flop um ás ou rei. Por isso é importante dar all-in pré flop.

Você pode não concordar com meus argumentos. Pode, por exemplo, dizer que eu ignorei os outros adversários na mão, a falar depois de você. Bom, mas eu disse que nós queríamos que todos saíssem da mão, e a melhor maneira de fazer isso é movendo all-in.

O ponto central é que, com mãos que queremos alcançar o showdown, como AK préflop, ou uma queda para straight-flush com duas cartas por vir, é importante colocar o máximo de fichas no pote o mais cedo possível. Quanto mais dinheiro tiver no pote, mais difícil de se dar fold e mais facilmente você conseguirá o showdown. Então, não seja o tipo de jogador passivo com AK. Aprenda a amar as palavras “I’m all in”!

Galera, conto com a torcida de vocês em 2008, e torço muito para o sucesso de todos no nosso esporte predileto!