Amor A Primeira Vista

Por Raul Oliveira30/04/2008

Nesta minha coluna inaugural, gostaria de comentar sobre um assunto em que penso há bastante tempo, mas só hoje tenho base para colocá-lo em palavras: o fascínio que o hold’em exerce sobre as pessoas.

É incrível a facilidade com que o hold’em é aceito em qualquer roda de jogo e a velocidade de propagação que ele tem. Quando comecei a jogar, sete anos atrás no partypoker.com, pensava que o fascínio estava dentro de mim, mas vi que estava errado – já era o hold’em que me fascinava.

Trata-se de um jogo de estratégia que depende de estudos matemáticos, raciocínio lógico, controle emocional, preparo físico e que, aos olhos do leigo, parece um simples jogo de azar. E esse hiato entre o leigo e o profissional é, com certeza, um dos motivos do seu sucesso. A cada partida jogada, a cada livro lido e a cada jogada pensada, aumenta o fascínio do jogador pelo hold’em e pela sua enorme complexidade.

Chega a ser um pecado compará-lo a um jogo de azar. Para mim, dizer que o hold’em é um jogo de azar seria o mesmo que dizer que o futebol também é. Afinal, os leigos sempre me dizem, “mas se a carta não vier você não ganha”, da mesma forma que eu posso dizer: “se a bola não entrar o time não ganha”. Mas, no fim das contas, nós sabemos que para os melhores a bola sempre entra – assim como as cartas sempre vêm.

Outro fator claro do encantamento do hold’em é que, assim como no futebol, nem sempre o melhor vence. Com isso, a modalidade se torna uma fábrica de sonhos – e não existe nada que nos fascine mais do que nossos sonhos. Partindo do principio de que não é necessário ser o melhor do mundo para se tornar campeão, todos os jogadores de hold’em do mundo sonham com a grande conquista, independentemente do valor que jogam ou do tempo que o praticam.

E o fato de nem sempre o melhor vencer é bom para os dois lados – tanto para os melhores quanto para os piores – porque esses últimos se alimentam do sonho de bater os primeiros, e estes, por sua vez, alimentam-se dos sonhos dos piores. Agora, o curioso (e legal) disso tudo é que 99% dos jogadores de hold’em acham que estão no grupo dos melhores.

Outro aspecto importante para o sucesso do hold’em é o “desafio ao acaso”. Muito mais do que sorte ou azar, o hold’em é um complexo jogo de estratégia, em que o objetivo é – no longo prazo – vencer o acaso ou, em outras palavras, anular o fator sorte e azar do seu resultado.

Fascinado ou não, para se vencer no hold’em é preciso muita dedicação e outros elementos que cito a seguir:

Controle mental. Eu sempre digo uma frase que exemplifica bem isso: “no poker, se você entrar em tilt, perde em uma hora o que levará cinco dias pra recuperar”.

Então, mantenha a calma. Acredite que a maré ruim vai passar (como sempre passa) e procure minimizar suas perdas nos períodos ruins (bad runs). Levante e vá beber água quando estiver num instante assim, mas nunca faça isso quando seus adversários entrarem em tilt – esta é a hora de “se fazer” e, ganhando ou perdendo, tenha sempre bom senso para avaliar o nível dos seus adversários. Como o filme Cartas na Mesa já nos ensinou: “se em meia hora você não encontrar o pato da mesa, o pato é você.”

Outra dica que dou é sobre um erro muito comum no mundo do jogo. Não seja valente na derrota e covarde na vitória. Se você está num dia muito ruim, não aumente a aposta: jogue no mesmo valor em que está, ou desça a aposta. Por outro lado, se você está num dia muito bom, jogue no mesmo valor ou aumente, mas nunca desça a aposta. Acredite, 90% dos jogadores não conseguem respeitar essa regra.

Gerar um saldo positivo entre duas mãos idênticas em posições inversas. Exemplo: você com par do meio (middle pair) em uma mão, e seu oponente com par mais alto (top pair), em uma mesa de 10-20$. Digamos que você perca 4 big bets ($80) e, na situação inversa, ganhe apenas 3 big bets ($60). Ao fim de um ano, se esta situação ocorreu 500 vezes, você terá perdido $10.000. Logo, trace uma estratégia para não permitir que isso ocorra.

Seu poder de ganhar mãos sem jogo, ou seja, que seu saldo no blefe seja positivo. Para alcançar este objetivo, tenha um bom raciocínio lógico, boa leitura dos seus adversários e coragem – acredite, não basta identificar um bom momento: é preciso coragem para blefar.

E claro, estude o jogo. Entenda o que você está fazendo, por que está fazendo, e analise sempre suas jogadas (qualquer que seja seu resultado). Às vezes, ganhamos jogando errado e perdemos jogando certo.

Para finalizar, queria dizer que tudo isso está ao seu alcance. Ser um ganhador é possível. Claro que estamos falando do Hold’em, um jogo tão complexo que parece ser jogo de azar – mas isso eu posso garantir que ele não é. Não estamos apostando em cavalos, dados, maquinas, times ou até mesmo em cartas, estamos apostando na nossa mente.

E, se você pode vencer 100 candidatos e ganhar uma vaga num estagio, passar num vestibular ou arrumar um trabalho em que a concorrência é enorme, você também pode ser um vencedor no Hold’em, porque estamos falando de “mente vs. mente” – do mais preparado paro menos preparado, ou do melhor controle emocional para o pior, mas nunca sobre sorte ou azar.

Até a próxima,
Grande abraço.

Raul Oliveira.

Artigo Publicado na Primeira Edição da Revista CardPlayer Brasil