Bad Beats São Mesmo Ruins?

Por Steve Brecher

Enquanto jogava nas mesas online, eu disse que existiam três assuntos que eu nunca discutiria em conversa de mesa: política, religião e se pôquer on-line é rigged*. Isso porque as opiniões de muitas pessoas nesses tópicos são endurecidas e não alimentam uma discussão amigável ou produtiva.

Longe da mesa, eu farei alguns comentários sobre eventos improváveis em pôquer. Ainda que não sejam instruções diretas ou tratados de táticas e estratégias de jogo, estes comentários podem lhe ajudar a lidar com os “bad beats” sem dificuldades, o que é uma parte essencial na busca da maturidade no pôquer.

Primeiro, vamos considerar o que a maioria veria como um bad beat “típico”: um par inferior que ganha de um par mais alto em hold’em, como o KK que bate o AA. Quando essas mãos compartilharem um naipe, a chance de vitória da mão pior é de aproximadamente 18%. A chance disso acontecer duas vezes são de aproximadamente 3%. Se em uma sessão de jogo, um par inferior bate um par mais alto duas vezes, isso poderia parecer um pouco estranho para alguns jogadores.

Mas considere outra situação que envolve chance. Quando são lançados dois dados, a chance de olhos de cobra (1-1) é de aproximadamente 3%, ou seja, igual a uma batida de par menor para par mais alto duas vezes.

Imagine 600 mesas de craps que usam dados standards, em mesas cheias com nove jogadores cada, ou seja, um total de 5,400 jogadores. Estas mesas operaram por uma sessão de três horas. Quantos jogadores observariam os olhos de cobra pelo menos uma vez? O resultado de expectativa estatístico não é importante. O ponto é que fica fácil ver intuitivamente que um número grande de jogadores vai ver.

Mais adiante, você pensa que alguns jogadores poderiam ver olhos de cobra lançados várias vezes por uma noite. Três ou quatro vezes já equivalem a seis ou oito bad beats. E se alguns desses jogadores fossem inclinados a informar suas observações em fóruns, certamente obteriam várias respostas de que os dados são “rigged”.

Voltemos para o pôquer. Recentemente, eu joguei uma mão de no limit holdem online. Um oponente sentado quatro lugares antes do botão abre um raise pre-flop. Todos foldaram e eu paguei a aposta no big blind. Fiz um semi-blefe no flop e outro no turn. Levei um all-in de volta e paguei, acertando meu draw no river. Depois que a mão se encerrou meu oponente conversou:

oponente: você é horrível steve!
oponente: por que $%#@^& você pagou essa aposta?
oponente: é terrível que esse site premie isso!

(Para meu oponente: Eu sei que estes comentários foram ditos no calor do momento de uma perda grande e necessariamente não refletem sua visão.)

Vamos dar uma olhada em minha chamada no turn. Eu tinha Ad-Td e meu oponente Kd-Kc. A mesa tinha Qd 9d 7h Jc.

Contra a mão de meu oponente, eu tinha 16 outs para ganhar o pote no river, me fazendo o “azarão” em 1.75-para-1. Claro que poderia ter sido pior para mim contra outras mãos, mas até mesmo o pior caso para minha mão, que seria enfrentar uma sequência pronta com K-T, teria sido só um 3-para-1.

Depois de minha aposta e do all-in de meu oponente, eu estava com pot odds de 3.7-para-1 caso pagasse a aposta. Assim, o call está claramente correto. Mas parecia para meu oponente, e para pelo menos um observador, que eu tinha feito um movimento ruim, e que minhas chances de 36% tinham causado um bad beat para meu oponente.

A moral desta história: Enquanto “bad beats” acontecerem (eventos de baixa-probabilidade), um exame mais íntimo de uma mão de pôquer pode mudar impressões e te permitir a continuar jogando tranquilamente, com a cabeça bem mais focada.

*Roubado, malhado, catrupiado, mal intencionado.