Doze Provérbios Sobre Blefes – Parte 3

Por Renzo Margotto

No último artigo tiramos duas lições importantes do segundo provérbio do livro de Lessinger. Vejamos quais as lições conseguimos tirar do terceiro provérbio…

3. Os jogadores loose procuram razões para pagar, enquanto os jogadores tight procuram razões para foldar.

O blefe é um movimento mais facilmente executado contra jogadores tight do que contra jogadores loose e você nunca deveria esquecer isso. Antes de tentar qualquer blefe, se pergunte se o seu oponente estará procurando uma razão para dar call ou uma razão para dar fold.

Por exemplo, você está jogando NL Hold’em e no river você erra seu flush draw. Há $200 no pote e você decide blefar, desde que você se decidiu que seu oponente tem, na melhor das hipóteses, uma mão marginal. Se você fizer uma aposta do tamanho do pote, um oponente loose poderia se persuadir facilmente de pagar. Ele pensará, “Wow, este sujeito poderia me vencer, mas se eu pago e ganho, posso levar um grande pote. Isso poderia me fazer um vencedor nesta noite! Eu tenho que pagar essa aposta.”

Enquanto isso, um jogador tight poderia argumentar, “eu penso que posso ter a melhor mão, mas não quero gastar outros $200 para descobrir. Isso é muito dinheiro. Eu não quero arriscar perder tanto quando eu não estiver seguro se tenho ou não a melhor mão.”

Viu a diferença? O jogador loose viu a aposta grande como algo positivo, enquanto o jogador tight viu a mesmíssima aposta como algo negativo. Quase nunca são as suas ações que determinam o sucesso de um blefe, o que verdadeiramente importa é contra quem você as toma.“*

Aqui o autor, mais uma vez de maneira simples, nos ensina o básico. Blefes são mais efetivos contra jogadores tight e menos efetivos contra jogadores loose. Nesse artigo vamos esmiuçar um pouco mais essas situações e mostrar que blefes podem ser efetivos contra jogadores loose e tight.

Em primeiro lugar, ao dizer que os blefes podem ser efetivos contra jogadores loose e tight, não estou querendo dizer que o autor do texto está errado. Muito pelo contrário, ele está certo! Como regra geral, blefes são mais efetivos contra jogadores tight do que contra jogadores loose.

A classificação habitual chama os jogadores de “tight” e “loose” e os rotual em “passivos” ou “agressivos”. Os rótulos de passividade e agressividade são importantes para você ir definindo o range do seu oponente ao longo da mão e ir avaliando a possibilidade de blefe. Agora, para mensurar o range inicial, eu costumo classificar os jogadores em tipos:

Tipo 1: Joga muito em posição e pouco fora de posição. Variação de range de acordo com os stacks efetivos. Dá 3-bet com range médio. C-bet padrão.

Tipo 2: Joga muito em posição e pouco fora de posição. Variação de range de acordo com os stacks efetivos. Dá 3-bet com range pequeno. C-bet padrão.

Tipo 3: Joga habitualmente fora de posição com range grande. Dá 3-bet com range médio. C-Bet padrão.

Tipo 4: Joga habitualmente fora de posição com range pequeno. Dá 3-bet com range pequeno. C-Bet padrão.

Tipo 5: Donk

A primeira regra é evitar o blefe pré-flop contra qualquer tipo de jogador como regra geral.

A segunda regra é evitar gerar um pote grande. Potes com 3 bets pré-flop são mais difíceis de serem levados sem showdown contra quaisquer tipos de jogadores.

Contra os tipos 1 e 2, você vai estar fora de posição. Assim sendo, a forma mais efetiva de blefar aqui é dando o check-raise no flop. O check-raise deve ser sua arma contra esse tipo de oponente sempre, tenha você ou não um jogo decente nas mãos. Contra os tipos 1 e 2 você pode tentar o movimento em qualquer tipo de bordo, seja ele conectado ou não.

Aqui não vale muito à pena manter a estratégia de small ball até o river porque tais tipos de jogador conseguem medir bem o valor de showdown da sua mão e são capazes de pagar bets no river com A-high.

Contra o tipo 5 você simplesmente não blefa. Ele não tem a capacidade de entender uma representação de mão num bordo conectado. O nível de entendimento de um jogador do tipo 5 se resume, quando muito ao pré-flop e contra esse tipo de jogador, blefar pré-flop é o mais indicado, mas apenas em situações apropriadas, preferencialmente em fases mais avançadas e com blinds altos, onde tais tipo de jogador sentem mais a mudança da faixa de premiação.

Contra os tipos 3 e 4 você já estará em posição, seja ou não como o agressor da mão (cold call ou 3-bet). Aqui não existe uma fórmula mais correta e quem vai definir a ação basicamente vai ser o bordo.

Em potes sem 3-bet o oponente tende a sair c-betando. Bordos com draws para sequências e flushes são melhores para blefar no flop, enquanto bordos sem conexões são melhores para serem controlados e blefados no river. Você blefa no bordo com draws dando raise na c-bet porque também daria raise na c-bet caso tivesse um jogo forte que precisasse ser protegido dos draws. Assim você equilibra seu jogo.

Já no bordo sem conexões aparentes, não existem draws a serem perseguidos e aumentar o pote aqui já pode significar que seu oponente, ao pagar, tenha algo realmente forte como dois pares ou uma trinca.

Por isso é importante manter o pote pequeno para só no avaliar o sucesso de uma possibilidade de blefe descobrindo se o jogador abriu para check/call ou check/fold, investindo bem menos fichas para isso.

*Tradução do Clube do Poker de LESSINGER, Matt (2005) – The Book Of Bluffs. 1ª ed., New York: Warner Books, p.2-3.