Por Renzo Margotto
Para quem não se lembra, nós estamos dando uma rápida passada pelo início do Livro dos Blefes, escrito por Matt Lessinger, em que o Autor fala sobre os 12 provérbios do Blefe. Na última parte discutimos a importância das informações que conseguimos sobre os nossos oponentes e a melhor maneira de usá-las eficientemente.
Vamos ver o que Lesinger tem a nos ensinar agora…
* “5. Os erros dos nossos oponentes se transformam em lucro
É impossível jogar pôquer sem errar, mas os grandes vencedores a longo prazo serão os jogadores que cometem menos erros. Sua meta não só é evitar que você mesmo erre, mas induzir seus oponentes ao erro. Sempre que você tem a melhor mão e seu oponente paga, ele comete um erro. Ele poderia ter jogado fora e economizado uma aposta, mas ao invés disso, essa aposta acaba se tornando parte de seu lucro.
Uma blefe bem executado, por sua vez, faz com que seu oponente cometa um erro ainda pior. Se você consegue fazer com que ele jogue fora a melhor mão, ele terá deixado de ganhar o pote inteiro. Agora o pote que você levou representa seu lucro, uma vez que não o teria levado caso houvesse showdown. Não é fácil fazer alguém jogar fora uma mão vencedora, mas isso é o que faz do blefe uma valiosa ferramenta.”
Aqui, pela primeira vez, vou discordar veementemente do autor! Acredito que o fato de estar escrevendo sobre blefes, nesse exato ponto, tenha feito Lessinger a super-estimar o valor do blefe em relação a aposta pelo valor.
A primeira distorção acontece quando ele afirma que ao blefar você lucra o pote todo e que ao fazer a aposta pelo valor e levar o call, você lucra apenas o river. Ora essa… A mão não teve pré-flop? Não teve flop? Não teve turn? Quantas oportunidades foram oferecidas para que você fizesse seu oponente colocar dinheiro no pote com a pior mão? Porque então somente a aposta do river seria o lucro?
Quem prestou atenção nas perguntas já entendeu onde quero chegar… Uma mão de poker é jogada em streets, streets essas que dependem de decisões. Quanto mais você desenvolve a habilidade de jogar bem cada uma dessas streets, maior é a possibilidade de você induzir seu oponente a erro.
Um blefe não aparece do nada no river. Para que seu oponente acredite nele, é preciso que você conte uma história convincente. História essa que deve ser escrita desde o pré-flop, passando por flop e turn, sob pena de ver seu oponente concluir que o blefe é o único final possível para uma história mal contada.
No final do texto, o autor é bem claro ao afimar que “Não é fácil fazer alguém jogar fora uma mão vencedora”. Se não é fácil fazer, significa que você vai utilizar no seu jogo como excessão e não como regra geral. Logo, a regra geral vai ser jogar apostando por valor e não blefando.
Por isso, saber apostar por valor é uma habilidade ainda mais importante que saber blefar. O que acontece é que a imagem que temos do blefe sempre é associada a grandes potes sendo levados, em momentos importantes de grandes torneios. Por isso tende-se a supervalorizar sua real importância.
*Tradução nossa de LESSINGER, Matt (2005) – The Book Of Bluffs. 1ª ed., New York: Warner Books, p.3-4.