Doze Provérbios Sobre Blefes – Parte 6

Por Renzo Margotto

Na última parte, discordamos do autor que, em tese, disse que saber blefar é mais importante do que saber apostar por valor. Vimos que situações em que apostamos por valor são regra geral, ao passo que as situações em que blefamos são excessões. Assim, na grande maioria das vezes estaremos apostando por valor e não blefando e, por isso, saber apostar por valor é mais importante do que saber quando blefar.
Vejamos qual a lição de hoje…

*”6. Ter uma boa posição faz o jogo ficar mais fácil.
Você sempre vai querer ser o último a agir. Como o pôquer é um jogo de informação, ter seus oponentes jogando antes de você, faz com você tenha mais informações sobre as mãos deles. Você pode usar essas informações na hora de agir e elas lhe ajudarão a determinar a jogada correta. Tudo o que você decidir fazer, fará tomando decisões melhor embasadas.

Por outro lado, seus oponentes são forçados a tomar decisões sem informações sobre a sua mão. Eles não sabem o que você planeja fazer e, assim, o máximo que podem fazer é pressupor como você agirá. Eles são forçados a adivinhar, mas você não é. Você tem a vantagem. Por isso, todos os blefes ficam mais fáceis no botão do que em qualquer outro lugar.

Não me entenda erradamente. Blefar fora de posição é ok, como vários do exemplos contidos neste livro irão demonstrar. Porém, não fique achando que você encontrará oportunidades melhores para roubar nos blinds do que no botão. O botão deve se tornar um de seus melhores amigos no mundo do pôquer, se já não é.

Aqui não tem muito mistério. Ser o último a falar é sempre mais importante. Ser o agressor é importante também, mas ter a posição é ainda a melhor arma. Se você puder ter a posição e ser o agressor melhor ainda.

Lessinger fala do botão, mas se observarmos os grandes jogadores em ação, veremos que o cut-off e o hi-jack também são posições importantes. Por isso veremos os bons jogadores darem raise no cut-off e no hi-jack, ao invés de cold call. Se você está no hi-jack ou no cut-off e apenas paga o raise inicial, você praticamente convida o jogador do botão a entrar no pote com posição sobre você. Por isso vemos bons jogadores darem raises com frequência dessas duas posições, garantindo que os jogadores entre eles e os blinds joguem as cartas fora.

No caso específico dos blefes, ser o último a falar significa estar sempre um passo a frente e ter mais embasamento na hora de tentar uma jogada. Vamos a um exemplo bem simples… Um oponente abre raise no UTG numa mesa com 9 jogadores. Todos jogam fora e você apenas paga no botão. Os blinds jogam fora e o flop abre x-y-z. O oponente pede mesa. Vamos analisar a situação sob a ótica dos dois jogadores.

O oponente abriu raise do UTG. Vamos supor que ele pudesse fazer isso com 11% das melhores mãos (22+,AJs+,KJs+,QJs,JTs,T9s,AQo+,KQo). Você pagou no botão e supomos que possa ter feito isso com 41% das melhores mãos (22+,A2s+,K2s+,Q7s+,J7s+,T7s+,97s+,87s,76s,A2o+,K7o+,Q8o+,J8o+,T9o).

De cara podemos perceber que o número de mãos com a qual você tem que se preocupar é muito menor em relação ao seu oponente. Além de ter essa desvantagem, ele ainda precisa agir primeiro. E essa ação vai fazer com que você elimine algumas mãos dentro desse conjunto de 10%.

Se a situação fosse diferente e você, por exemplo, tivesse aberto o raise do botão e o oponente dado call do big blind, além da desvantagem acima mencionada, o oponente ainda teria que nos enfrentar como agressores na mão, deixando as coisas ainda mais difíceis.

Voltando à mão do exemplo, ao pedir mesa o nosso oponente que abriu raise com 11% das mãos inicias acaba nos indicando que ele não tem um par e que provavelmente está segurando duas cartas pareadas, sem descartar o check-raise com uma possível trinca.

Sabendo disso, a gente tem uma chance de apostar e levar o pote sem showdown nesse flop, mesmo com uma mão ruim como um J8o, por exemplo. Dados como o percentual de vezes em que nosso oponente paga bets no flop ajudam bastante nessa hora. Observar se ele costuma pagar aposta no flop com overcards fazendo float também é interessante nesse tipo de situação, reforçando a idéia inicial de que a informação por trás da posição é que faz a diferença!

*Tradução nossa de LESSINGER, Matt (2005) – The Book Of Bluffs. 1ª ed., New York: Warner Books, p.4.