Doze Provérbios Sobre Blefes – Parte 8

Por Renzo Margotto

Chegamos numa fase em que os provérbios começam a se misturar. É inevitável, para nós que comentamos, acabarmos adiantando alguma coisa do que está por vir para podermos exemplificar algumas situações. No provérbios dessa edição, veremos um caso já contado antes… Vamos a ele…

“8. Um blefe deve contar uma história que seu oponente deve acreditar e entender.

Quando eu digo que a indecisão leva ao fracasso, estou me referindo a uma situação de duplo sentido. Do mesmo modo que você tem que agir corretamente, você tem que também fazer seu oponente pensar que também está agindo corretamente ao jogar suas cartas fora. Você não quer deixar qualquer dúvida na mente dele. Deixe-o permanecer confiante de que o fold é correto, porque criar dúvida na mente de seu oponente, como vimos anteriormente, é contraprodutivo. A dúvida conduz a curiosidade. E a Curiosidade conduz freqüentemente aos calls.” (LESSINGER, 2005)*

Vamos começar com um exemplo…

Vocês estão com 100 big blinds. Seu oponente abre raise no UTG para três vezes o big blind e você triplica a aposta no botão com par de damas. Ele paga a aposta e o flop abre Jc-7c-2h. Seu oponente pede mesa, você aposta meio pote e ele dá o call. Um 4c abre no turn e vocês dois pedem mesa. Finalmente um 4h aparece no river e seu oponente sai apostando o pote. Vamos aos fatos…

Seu oponente abre raise no UTG e paga uma 3-bet sua fora de posição, pagando também a continuation bet do flop. Vamos imaginar um range? primeiramente vamos descartar grandes pares pelo fato dele não ter dado um novo raise. Com JJ ele provavelmente teria apostado no turn devido a grande quantidade de draws e ao tamanho do pote. Com pares intermediários ele não teria apostado no river porque transformaria em blefe uma mão com valor de showdown. O 4 não faz sentido ele ter.

O que sobra para o range do nosso oponente então? Draws! Flush draws ou draws para sequência. Porém, com draws para flush no flop  e uma nova de paus no turn, nosso oponente teoricamente teria acertado o flush. Só que com o pote já grande e com a ação anterior, ele poderia ter certeza que a carta do turn foi uma carta ruim para você e, sabendo disso, ele também vai saber que você pediria mesa. Logo, está seria uma boa oportunidade para ele crescer o pote com o flush, coisa que ele não fez.

Logo, o mais provável é que ele tenha errado um draw. Você faz o call e ele abre 9d-10d, uma mão que faz sentido pelo desenrolar do jogo.

A dica aqui é simples: fuja do feeling! Não blefe porque “sentiu fraqueza” no check do seu oponente no river. Blefe porque você tem certeza que sua representação de jogo no pre-flop, no flop e no turn induziram seu oponente a abrir o river para check-fold e não para check-call.

*Tradução nossa de LESSINGER, Matt (2005) – The Book Of Bluffs. 1ª ed., New York: Warner Books, .5.