Entrevista: Any_Edge

Entrevista com Ane_Edge, jogador de SNG do Clube do Poker com ótimos resultados em torneios, veja alguns:

– 1º Lugar no 5k Gtd. de US$ 22 em 24.11.2008;
– 1º Lugar no Torneio 15k do CDP de novembro/08;
– 1º Lugar no 5k Gtd. de US$ 22 em dezembro/08;
– 5º Lugar no 15k Gtd. do CDP de dezembro/08
– 2º Lugar no 10k Gtd. de US$ 109 em 29.1.2009;
– 7º Lugar no 7k Gtd de US$ 33 em 26.2.2009 (não tenho screen desse);
– 2º Lugar no 15 Gtd. do CDP de fevereiro/09;

A entrevista:

Quando e como você começou a jogar poker on line?

Comecei a jogar online com mais freqüência no início de 2007. Até então, era um entusiasta dos jogos ao vivo, e me divertia mais nessa modalidade. Por esse motivo, participei, desde o início, do Circuito do Distrito Federal, em que fui campeão no ano de 2006. Após a conquista do campeonato, contudo, o hold’em em Brasília passou por uma série de problemas, que atraíram a velha imagem ruim que algumas pessoas teimam em associar ao Texas Hold’em. Assim, e também por motivos pessoais e familiares, decidi não mais participar do circuito. Para não me afastar por completo, resolvi experimentar o online.

Aproximadamente quantas horas por dia você joga?

Não costumo jogar todos os dias, mas dá para estimar uma média de 2 horas, três vezes por semana. É claro que, quando surge a oportunidade de ir mais longe em algum MTT, o tempo aumenta proporcionalmente.

Você estuda? Trabalha? Como consegue conciliar outras atividades com o poker?

Estou terminando a faculdade de Direito, e trabalho em um escritório de advocacia, carreira que pretendo seguir. Nos momentos de maior correria entre escritório e faculdade, o poker acaba ficando em segundo plano, mas isso só serve para voltar com mais concentração e vontade ainda quando o sufoco se normaliza.

Sua família o apóia e entende que poker é um jogo de habilidade e não de azar?

Infelizmente não. Minha família detém exatamente a visão estereotipada que tanto combatemos com relação ao Texas. É claro que já procurei conversar longamente com eles, mostrando-lhes os motivos pelos quais nós todos sabemos que o jogo se funda, predominantemente, no fator habilidade. Ainda não fui capaz de eliminar os preconceitos, mas torço para que, no futuro, percebam como nossa prática pode ser saudável e encarada como uma atividade extremamente positiva.

O que você acha do nosso torneio mensal 15K garantido, rankings, ou seja da estrutura do Clube do Poker? Mudaria alguma coisa? Alguma sugestão?

O Clube do Poker foi pioneiro e fez um excepcional trabalho na divulgação e incentivo da prática do esporte no Brasil. Mais do que isso, o fato de os idealizadores do site serem jovens, excelentes jogadores e manterem uma vida balanceada, contribuiu muito para demonstrar que podemos sim encarar o poker como algo positivo, sem abrir mão da competitividade e da obtenção de resultados. A estrutura do site, na minha opinião, foi muito bem elaborada, e os torneios são uma ótima oportunidade para os brasileiros que querem desenvolver seu jogo e construir um bankroll.

Parabéns pela mesa final no nosso último 15K garantido de Fevereiro. Tem alguma mão específica que queira comentar desse torneio?

Obrigado! Realmente, foi um grande torneio, por parte vários jogadores. Uma mão me fez refletir bastante depois do campeonato, a respeito de um conceito que, muitas vezes, pode significar o fim de um torneio em que vínhamos jogando bem. Falo do conceito de valor, ou “value” de uma aposta. Normalmente se usa essa expressão para discutir aquelas apostas feitas no river, em que se tenta extrair mais um pouco de fichas de um adversário que tenha a segunda melhor mão.

Na mão específica em questão, a situação foi inversa, pois ocorreu no flop. Fiz 2,5 bbs segurando T8s late position, e o BB deu call com Ax. O flop trouxe dois 8s, trincando minha mão sem ajudar meu oponente. Nesse momento, o pote tinha aproximadamente 25k, enquanto o vilão tinha em torno de 45k e eu estava com um stack confortável, com pouco mais de 100k. Nesse ponto, evidentemente o vilão quer levar o pote imediatamente, pelo seu tamanho em relação ao nº de fichas que ele ainda tinha. Após pensar um pouco, ele empurrou all-in e eu o chamei, eliminando-o do torneio. Vejo essa situação com alguma freqüência no online, em que um stack menor tenta levar um pote à força sem ter uma mão feita, e acaba sendo eliminado por um jogador que acertou o flop.

Apesar de acreditar que a maioria de nós já fez algo parecido ao menos uma vez, na minha opinião não existe “value” nessa jogada. Mesmo que o vilão imaginasse que uma aposta de meio pote talvez não me expulsasse (tendo em vista o meu stack grande), não se justifica colocar o torneio inteiro em risco nessa situação, com A high fora de posição, sem ter idéia se o flop me ajudou ou não. O par de 8s do flop dá a impressão que o board não melhorou minha mão, mas, além do 8, eu poderia segurar qualquer pocket pair ou mesmo duas over cards e chamá-lo (estando na frente) da mesma forma, já que exatamente o número grande de fichas me permitia arriscar parte delas para eliminar um jogador, aumentando, além do meu stack, o meu valor esperado (EV) no campeonato. O Gigabet, famoso jogador do online, tem um artigo interessante sobre o que ele chama de “Teoria dos Tamanhos de Stack”, que por si só justificaria inteiramente o call, ainda que eu estivesse atrás, simplesmente pelo incremento de EV que a vitória na mão implicaria para mim posteriormente.

É interessante notar que top players consagrados, como Hellmuth, procuram jogar sempre seus short stacks de maneira similar ao que fariam com um stack na média de fichas, precisamente porque sentem que podem obter informações suficientes sobre a mão do adversário sem que, para isso, tenham que arriscar sua eliminação. Muitas vezes, uma “feeler bet”, aposta feita para sondar a força do oponente no pote, já é suficiente para ganhar a mão ali mesmo, sem trazer maiores riscos ao jogador que está fora de posição. Enfim, algo para se refletir.

Qual conselho você daria para quem está começando agora no poker on line ?

Dentre os conselhos que os jogadores com maior experiência podem dar aos que pensam em começar a jogar online agora, o maior deles, no meu ponto de vista, é: NUNCA JOGUEM FORA DO LIMITE DE SEU BANKROLL. Seguindo esse princípio (o que algumas vezes pode ser bem difícil e exigir muita disciplina), as chances de construir uma trajetória de sucesso aumentam exponencialmente. Nesse ponto, inclusive, sou mais precavido que a média: recomendo, pelo menos, um bankroll de 40 buy-ins do torneio ou ring game que se pretende jogar.

Quais são suas metas e aspirações em relação ao poker? Aonde você quer chegar?

Antes de qualquer coisa, jogo e estudo poker porque gosto. É, há algum tempo, meu hobby preferido, não vejo o tempo passar quando estou envolvido em um torneio ou mão relevante. Dedico o limite da minha concentração à mesa. Como projeto, seria uma experiência incrível jogar o Main Event da World Series, sonho que ainda pretendo realizar.

O espaço é seu, deixe seu recado.

Além dos merecidos elogios à equipe do CDP pelo trabalho que desempenha com tanta garra, queria registrar a alegria de ver a comunidade brasileira do Hold’em mobilizada para sempre evoluir o nível do seu jogo, discutir, repensar estratégias, e batalhar para mudar a visão daqueles que insistem em classificá-los como praticantes de um “jogo de azar”. Estamos no caminho certo.