por Christian Kruel
24/10/2005
Quando começamos a estudar o Texas holdem, uma das primeiras coisas que aprendemosé que esse jogo exige que se jogue “Tight”, ou seja, SEGURO. É lógico que jogar “tight” é e continuará sendo correto, assim como é também a maneira mais comum de se ganhar on-line.
Pois é, mas a grande diferença entre um jogador comum e um “World Class” player é que o segundo sabe jogar tight-agressivo e “mixar’ seu jogo randomicamente com quase perfeição e explicar o motivo pelo qual ele fez cada jogada, cada blefe e etc.
Para cada jogada, principalmente em No Limit holdem, existem várias saídas, o que torna impossível que todos joguem igual. Assim, estilos de jogo vão surgindo e alguns mostrando mais resultados que os outros. O seu estilo de jogo vai estar diretamente ligado à sua personalidade. Por isso é tão importante sermos nós mesmos, e não tentarmos “copiar” estilos de jogo, nem variantes do jogo, que não vão se adequar a nossa personalidade.
No texas holdem existem algumas “variantes” como: Cash Game, que pode ser Limit ou No limit e, ainda dentro do cash game, você pode se especializar em mesa cheia ou com poucos jogadores, chamada de “short handed”. Dentro de torneios, temos os single tables, geralmente com 9 ou 10 pessoas, e finalmente os multi-tables, com um número infinito de jogadores como os WPT e WSOP.
Em cada uma dessas variantes temos que saber “mixar” o nosso jogo, caso contrário em longo prazo o seu jogo ficará previsível e sem criatividade nenhuma. E é exatamente essa critatividade que faz muitos jogadores se tornarem verdadeiras “lendas”, como “phil Ivey e Daniel Negreanu, famosos por terem um estilo de jogo “imprevisível”!
Nesse artigo vou procurar explicar e exemplificar com que tipos de jogada, situações e até com que tipos de cartas podemos e devemos mixar nosso estilo de jogo (logicamente, considere sempre sua posição na mesa, antes de tomar uma decisão).
Nós queremos sempre receber A-A, K-K, Q-Q e etc., mas não é assim que as coisas acontecem. Devemos encontrar potencial e valor em jogos também como os “suited concetors”, tipo 9-8, T-9, J-T, 7-6 do mesmo naipe, pois eles geram um grande potencial de aposta, já que possiblitam “draws” na maioria das vezes.
Mas logicamente não devemos e não iremos jogar apenas essas cartas. Muitas vezes iremos jogar apenas nossa posição na mesa e até nossa situação de fichas, caso seja, por exemplo, um torneio e assim “nem olharemos para as nossas cartas”.
Sem criatividade e talento, você será apenas “mais um” e estará condenado a um jogo previsível e provavelmente sem grande potencial de vitória.
Vou enumerar alguns tipos de variações que eu uso no meu estilo de jogo, e quero deixar claro que eles nem sempre são “verdades absolutas”.
» Variar a jogada com cartas muito FORTES .
» Call – Bluff
» Call – All in
» Mixar com os Suited Conectors
Lógico que não são apenas essas as suas possiblidades de jogadas para “randomizar” seu jogo, mas são as que usarei para exemplificar nesse artigo, visando dar uma “noção” da amplitude que a sua criatividade pode ter ao ser bem aplicada.
Variar a jogada com CARTAS muito FORTES
O exemplo que vou usar aqui ocorreu num torneio de 200$, desses aos domingos no partypoker. Mas entendam que a “mensagem” geral desse exemplo é mostrar que não é porque recebemos K-K que iremos sempre entrar de “fortes” raises ou re-raises no pre-flop. Mixe o estilo e muitas vezes você terá um lucro muito maior, pois o seu oponente não terá idéia do que você tem na mão.
Os blinds eram 25-50, eu tinha 2.200$ fichas. O primeiro a falar dá “limp” 50$, ou seja, entra de call, mais dois jogadores depois dele também apenas dão call 50$ e o último a falar dá raise 150$. Eu sou o small blind e tenho K-K (par de rei). Peço que você pense em como jogaria, antes de ler como joguei…
Visando gerar um “mega pote”, resolvi apenas dar call no raise 150$ e torcer para que os outros oponentes viessem comigo, e que inclusive um deles redobre a aposta. E torci também para que, caso tivéssemos um flop, que não aparecesse A´s no bordo, pois aí eu estaria “morto”!
Após eu dar call nos 150$, faltavam ainda 3 oponentes a falar. O primeiro deu fold, o segundo a falar ENTROU DE ALL IN no raise 150$ e o último a falar, que havia dado raise 150$, pagou ao all in. Chegando a minha vez, eu logicamente dei call nos dois “allin´s”. O jogador que deu all in mostrou apenas um 8-8 e o último a falar 9-9 . Eu com K-K, ganhei tranquilamente um MEGA pote.
Nada disso teria acontecido, caso eu desse all in no pre-flop, o que seria a JOGADA MAIS COMUM, pois na maioria das vezes todos os outros jogadores teriam jogado fora. Nesse caso, pelo perfil dos jogadores, acredito que o 9-9 teria pago a minha aposta, mas eu ganharia um pote MUITO MENOR! Em outras muitas vezes nem o 9-9 iria pagar essa aposta e assim eu ganharia muito menos novamente.
Call – Bluff
O Call bluff, como qualquer uma das variantes, pode ser aplicado em qualquer um dos tipos de jogo do holdem, mas é certamente mais usado e eficiente em jogos com carecterística agressiva, como short-handed games, torneios multi-tables estilo WPT, e torneios on-line. É usado, de preferência, em situações em que você tenha muitas fichas em relação ao blind.
Vamos ao exemplo :
Os blinds são 600-1200. Eu, C.K., tenho 53.700 fichas e sou o big blind. O torneio é multi-table e se encontra numa hora “avançada” – nas 3 últimas mesas de um total inicial de 1400 inscritos. Recebi um 7-6 de espadas. Todo mundo dá fold até o small blind, que entra de raise 3.600$. Eu rapidamente dei call, pois tenho um bom jogo para uma situação de “heads up” nos blinds e serei o último a falar em relação ao small blind que entrou de raise. Vem o flop:
*** FLOP: [A 6 J]
Meu oponente aposta 3600. e eu agora vou aplicar o call-bluff dando call na aposta de 3600$ no flop. Assim SABEREI O JOGO QUE ELE TEM NO TURN (4ª CARTA) DE ACORDO COM A SUA REAÇÃO. É importante notar que dou call no pre-flop e flop com tranquilidade porque tenho MUITAS FICHAS em relaçao aos blinds. Eu não tenho nada no flop, a não ser um horroroso par de seis. Então fica claro para vocês que NÃO ESTOU JOGANDO MINHAS CARTAS, MAS SIM AS ATITUDES DO MEU ADVERSÁRIO.
*** TURN : [A 6 J] [5]
Com o 5 de copas no turn, meu oponente abriu check, o que na maioria das vezes é um sinal de fraqueza. Sendo assim, C.K. bets 15.000 e ele rapidamente deu fold, dizendo “Q-Q”. Ou seja, ele desistiu do seu Q-Q para o meu par de seis! Por que consegui isso? Primeiro por causa da minha posição e segundo pelos calls que dei no pre-flop e no flop, seguidos de um bet forte no turn.
Essa é uma jogada ousada e muitas vezes pode dar errado, por isso só a experiência pode te dar um tempo de aplicação quase que perfeito.
Na segunda parte desse artigo continuarei a descrever as outras situações e exemplos.
Abraços, galera
C.K.