Síndrome do Super-Homem e o monstro da bad beat

Andando pelo mundo do pôquer você irá encontrar um jovem que está classificado para uma mesa final antes de sair da faculdade e ele diz algo como “Pôquer é o jogo da vida”. Muitos dos melhores e dos piores traços do ser humano realmente são relevantes no pano verde. As emoções, esperanças e sonhos, e constantes desapontamentos são freqüentemente interrompidos por flashes de pura exaltação. São esses momentos que nos fazem lembrar porque nós escolhemos esse jogo.

Após uma downswing recente eu decidi dar um passo atrás. Eu tentei compreender três coisas. A primeira é a mais óbvia, para de doar o meu dinheiro. Não importava o quão bem eu fosse all-in, os dois outs ou runner runner sempre aconteciam. Depois, eu percebi que existia algo a ser feito no meu jogo. Complacência é inimiga do lucro e finalmente, eu queria apenas me certificar que era o lado ruim da variância que estava me fazendo levar tantos beats assim, e não alguma falha no meu jogo.

A pergunta era fácil, como eu poderia ser tão amigável com o fantasma das bad beats me caçando no meu sonho. Qualquer jogador de pôquer de verdade compreende que existirão downswings horríveis, mas eu tinha que me certificar que eu não estava de forma alguma sendo responsável por extendê-la. Após rever históricos de mãos dos bons tempos e compará-los com os mais recentes, meu medo se realizou. Era minha culpa, pelo menos parcialmente.

As primeiras bad beats eram apenas a variância; de fato as duas ou três primeiras semanas foram apenas azar. Após isso, entretanto, eu comecei a perder a minha confiança, esperando a pior carta possível. Eu deixei o medo irracional afetar as minhas decisões e logo eu estava apostando muito forte os meus monstros. Eu sentia que eu deveria proteger a minha mão mais do que focar em como extrair o máximo de valor. Por outro lado, eu estava apostando menos qualquer coisa que não fosse o nuts, temendo que no river eu pudesse perder, me deixando com um stack pequeno.

Eu estava jogando o pior tipo de pôquer; estava focado nos resultados e temia qualquer carta que fosse virada. Eu tinha me tornado um jogador tight-passivo. Percebendo isso eu fiz a única coisa que poderia para superar essa situação – usar o conhecimento básico e lógico sobre o jogo. Eu comecei a jogar menos mesas, então eu podia focar em cada mão cuidadosamente e me certificar que eu sempre escolhia a melhor linha possível. Eu fazia o meu melhor para nunca esquecer mesmo que os resultados não aparecessem, meu conforto estava em estar na frente quando eu fosse all-in.

Durante os meus estudos na downswing, eu também percebi um erro no meu jogo causado pelo lado bom da variância. Você já teve um dia onde todas as cartas acertam, todo o flop lhe traz um set, todo turn lhe completa o maior flush? Era por isso que eu jogava. Doyle Brunson disse isso melhor “você deve jogar as mãos que você acertar” e esse é um sentimento ótimo.

Isso é o que eu chamo de “Síndrome do Super-Homem”. Assim que eu começo a levar mais sorte, eu vou lentamente abrindo o meu range. Podem ser as cartas, ou pode ser porque eu estou jogando bastante focado… mas eu acerto algo no flop o tempo todo, aplico semi-blefes bem sucedidos e faço leituras apuradas. Você se sente invencível e eventualmente faz jogadas irracionais baseado no seu “feeling”. Você paga algumas mãos contra o fish, mesmo sabendo que ele completou o flush e você não está recebendo os odds corretos. Eventualmente, você irá perceber o quanto pagar algumas apostas -EV lhe custaram… Normalmente alguns minutos depois. Sua “invencibilidade” se foi e assim como um pouco do seu lucro.

Pessoas são viciadas por natureza, seja com comida, álcool ou tabaco. É fácil de tornar-se um viciado, mas não é a companhia de cerveja ou de tabaco que é responsável pela produção das pequenas endorfinas responsáveis por esse processo. Quando algum skydiver ou piloto de carro diz “Eu sou um viciado em adrenalina” ele não é viciado na ação – e sim na reação química que lhe acontece após a ação.

Essa mesma reação é responsável por haver tantos jogadores recreacionais no pôquer, a liberação de endorfinas quando se está aplicando um grande blefe ou quando se ganha um grande pote. Esse “barato” é o que lhes traz sempre de volta ao jogo. É o que os faz jogar pelo “grande pote” ou desenvolver a fancy player syndrome (veja o artigo publicado sobre esse tema). Eles não estão na sua mesa para viver. Eles estão esperando o “barato” e eles estarão esperando e pagando por isso.

Como jogadores sérios, nós temos que fazer esforço para controlar qualquer coisa que ameace o nosso lucro. Evitar as reações da endorfina, entender como nos controlar e tirar vantagem dos nossos oponentes mais fracos é uma ferramenta valiosa.

Lembra-se no início quando nós comparamos o pôquer com a vida? Bem, aqui nós temos uma lição de vida disfarçada de dica de pôquer. Sempre pense em cada decisão, lógica e racionalmente e nunca deixe as suas emoções, mesmo que elas sejam boas, obstruírem o seu julgamento. Confie no que você sabe, e use as técnicas que você trabalhou duro pra adquirir.