Texas Holdem É Esporte?

E ai galera tudo bom?

Devido aos últimos acontecimentos e a avanços em relação à legalização do poker no Brasil não vejo hora mais adequada para falar sobre um assunto muito importante: A já conhecida discussão de se o hold’em é ou não um esporte.

O primeiro ponto que acho interessante colocar é que quando falamos de esporte em relação ao hold’em estamos falando dos pré-requisitos para se tornar um vencedor e não sobre de que forma o jogo ocorre.

O que é claro para todos nós do hold’em é que para se tornar um vencedor é necessário tanta dedicação, estudo, disciplina e treino como em qualquer outro esporte. E esse por sinal é o ponto mais importante para nós de que os profissionais do hold’em sejam encarados como profissionais e não como sortudos. Certa vez uma amiga ao saber que eu passava de 6 a 10 horas jogando hold’em por dia me perguntou “como você agüenta?” e eu respondi “da mesma forma que o Guga passa 8 horas batendo bola com o Larri”. E esse é com certeza o maior problema que nós os profissionais do hold’em enfrentamos, a desvalorização da nossa profissão, as pessoas encaram o hold’em como lazer, compulsão, jogo de azar ou mesmo vagabundagem, mas nunca como uma profissão. Porque passar 20 anos jogando bola ou tênis e mais legal, elegante ou correto do que passa-los jogando poker? E por falar em bola uma analogia que gosto muito de fazer é a do hold’em com o futebol, já que esse é um assunto entendido por quase todos os brasileiros.

O porquê deu escolher o futebol para essa analogia é simples, porque em minha opinião um dos motivos do fascínio de ambos é o mesmo, que é exatamente o do mais fraco poder derrotar o mais forte. O problema é que no futebol isso se chama zebra e no hold’em querem chamar de azar.

Como exemplo, vamos ao Campeonato Brasileiro do último ano. O América de Natal em suas 38 partidas obteve 4 vitórias, 5 empates e 29 derrotas. E foi de longe o pior time da competição já que só somou 17 pontos enquanto o penúltimo chegou a 41. Por esse desempenho fica fácil visualizar que as 4 vitórias foram zebras e se o melhor sempre vencesse o América teria terminado o campeonato com 0 pontos. Acredite, no hold’em acontece o mesmo, se um jogador tecnicamente muito inferior participar de 38 torneios ao final dos mesmos ele terá obtido pouquíssimos êxitos e que teriam sido zebras.

Mas para a alegria de todos que praticam o hold’em e o futebol as zebras existem. Porque da pra imaginar o quanto chato seria se o melhor sempre vencesse e a única emoção ficasse para os clássicos. Desculpem-me os amantes do voley, basquete e outros vários esportes, mas a emoção desses jogos fica muito mais em assisti-los do que na incerteza do resultado. E é essa incerteza do resultado que leva multidões aos estádios e cada dia trás mais adeptos ao texas hold’em. Agora o que permite se viver como jogador de poker e o que faz os melhores times serem mais vezes campeões é que essa incerteza ocorre num curto prazo, no futebol um jogo ou um campeonato mata-mata no hold’em uma session ou um torneio.

Um exemplo fácil de se visualizar aqui no Brasil é o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, no primeiro apenas grandes times levam já que seu atual formato de pontos corridos fazem com que zebras isoladas percam o valor, por outro lado a Copa do Brasil nos trouxe nos últimos anos campeões como o Santo André e o Paulista, zebrassas que mostraram que num tiro curto (um torneio mata-mata por exemplo) a zebra pesa e muito. E no hold’em não é diferente imagine que toda quarta-feira ocorra uma jogo entre um aluno e um professor, na primeira semana e talvez até no primeiro mês o aluno possa ter uma vantagem, mas no fim de um ano a chance do aluno bater o mestre seria a mesma do América de Natal levar o Brasileirão.

E porque existem as zebras? Porque o fator acaso participa e muito dos dois jogos. No futebol fatores como, bolas na trave, erros da arbitragem, ventos fortes, montinhos artilheiros, falhas de zagueiros, atacantes e goleiros entram como fatores surpresa num jogo e em alguns casos causam um resultado inesperado. Assim como no hold’em o acaso participa muito do jogo dando bad beats incríveis ao longo de uma session ou de um torneio e também em alguns casos causam um resultado inesperado.

É exatamente pelo fato de no hold’em existirem zebras assim como em qualquer outro esporte que nós profissionais descartamos de cara qualquer ligação dele com um jogo de azar e pelo contrario associamos o sucesso no hold’em a uma maior habilidade nossa na média do que a de nossos adversários.

E assim como em qualquer esporte essa maior habilidade vem em primeiro lugar de um dom do jogador, seguido de estudo, treino, disciplina e claro muitas mãos jogadas. E sendo o esporte uma competição de habilidade sem duvida o hold’em está incluído nessa categoria.

Um grande abraço a todos.