Por Raul Oliveira – 22/05/2008
Realmente é incrível a força que a TV exerce sobre nossas vidas, com o Hold’em é claro, não poderia ser diferente. Alem de ter difundido o Texas hold’em de forma avassaladora as transmissões dos torneios e cash games ditam modas nos salões e sites atuais. E como eu comecei minha caminhada antes que poker fosse transmitido na TV, pude acompanhar cada variação que o jogo sofreu com os novos e bem sucedidos programas de TV.
Há sete anos quando comecei a jogar Hold’em a primeira coisa que aprendi foi que o segredo era paciência ao extremo, espere pela hora certa e só jogue mãos muito fortes e mais, não hesite em dar fold por horas. Não vou negar que essa até hoje é uma estratégia bastante utilizada e no cash game na maioria dos casos bem sucedida, porem essa com certeza não é mais uma estratégia utilizada pelos grandes jogadores da atualidade e não costumam funcionar em grandes torneios. E isso se deve a meu ver a dois jogadores: Gus Hansen e Daniel Negreanu.
Quando viajei pela primeira vez pra Las Vegas em 2003 os torneios que participei eram extremamente tights, quase não se viam re-raise e nem raises sem jogos fortes, e o que se via era uma grande disputa de paciência. É claro que já devia ter uma turma se aproveitando disso, mas no geral o jogo ficava amarrado na espera. Acontece que em meados de 2004 se me recordo bem foram transmitidos torneios com a participação do Gus Hansen na mesa final e o que se viu foi um baile sem fim, 92 T4 J3s e muitos outros jogos que 99% dos jogadores nem olhavam se tornavam armas fortes de aposta para ele. E com isso aconteceu à primeira revolução do hold’em.
Alguns jogadores passaram a dar muitos raises no pré-flop e como toda ação gera uma reação os re-raises no pré-flop começaram a virar jogadas corriqueiras, depois dessa revolução os torneios duros passaram a não ter só um raise por mão e sim um raise e um re-raise. Ainda assim o call era muito pouco visto e na maioria das jogadas em que alguém levava um re-raise a mão terminava ali. E foi ai que em minha opinião entra Daniel Negreanu, que em suas transmissões desfilava um grande leque de calls que até então também eram vistos como jogadas perdedoras. Alem de limps, Negreanu começou a dar call nos raises com mãos medianas e pagava os re-raises com grande tranqüilidade e daí veio a 2ª revolução do hold’em.
Um jogo que foi baseado durante um bom tempo em estratégias de pré-flop passava e muito a ter action no pós-flop, o que claro favorecia e muito os bons jogadores. Com isso penso que o Hold’em se tornou um jogo muito mais bonito de se ver e prazeroso de se jogar, já que agora jogadas em que um único raise as definia, passaram a ter um raise um re-raise e um call, dando muito mais brilho ao Hold’em. E não foi só o pré-flop que sofreu essa influência, no pós-flop o call que sempre foi duramente criticado passou a ser uma jogada comum mesmo quando o jogador tem uma mão forte como um AK com um A na mesa, o famoso check-raise divide seu espaço hoje com o check-call jogada que antes do Negreanu na TV quase não era vista, a não ser por maus jogadores que a utilizavam de forma errada.
Em função dessa no ordem do Hold’em o jogo se tornou mais difícil ainda do que já era, já que as leituras ficaram bem mais complicadas e os blefes ganharam força. E o que se vê hoje numa mesa de um torneio forte é uma grande mixagem de estilos entre os jogadores. As antigas leis do Hold’em como: só jogue mãos muito fortes no UTG passaram a ser armas para se roubar os blinds quando os mesmos estão caros e hoje mãos como 76s JTo são vistas dessa posição.
O mais legal disso tudo é que com isso o Hold’em se tornou um jogo de muito mais habilidade do que era e cada vez mais se distancia da duvida de compará-lo a um jogo de azar. O que já se tratava de um jogo de habilidade esta se tornando um jogo de extrema habilidade, forçando a todos que o praticam a estudarem e se preparem bastante antes de sentarem numa mesa.
Para finalizar, queria lembrar que essas mudanças nos padrões do jogo que mencionei são algumas das muitas que ocorreram nesses anos e que com certeza não serão as últimas. Por isso mantenha sempre a mente aberta a todos os estilos de jogo e lembre-se que para cada mesa em que sentar existirá a melhor estratégia a se utilizar, por isso, finja que o estilo de jogo é um como uma taqueira de golfe onde para cada situação existe um ideal.
Artigo publicado na Revista Card Player Brasil