A Pedalada do Poker

Por Christian Kruel17/04/2008

Diferenças entre slowplaying e check-raise

Outro dia flagrei-me estudando nosso jogo predileto – coisa que, aliás, não faço há muito tempo – e estava no fórum do Clube do Poker quando encontrei uma discussão interessante sobre slowplaying!

Achei curioso, até porque uma característica marcante do meu jogo e da minha agressividade é o slowplaying com check-raise, além do check-raise como blefe ou semi-blefe. Considero essa jogada fortíssima e, acreditem, não tenho visto muita gente tirar proveito desse fundamento.

A propósito, eu e Raul há anos costumávamos chamar o check-raise de “pedalada” (graças ao Robinho) e, nas viagens, sempre falava para o Raul: “Cara, eu sou sempre o único, ou que mais pedala na minha mesa…”. Ironias à parte, “Depois dizem que os jogadores de Hold´em não praticam esporte, e a gente pedalando o dia inteiro…” hehe

Mas, falando sério, vamos analisar aqui o lado técnico-teórico do slowplaying, ou “pedalada”. O check-raise é uma jogada na qual se disfarça uma mão para dar raise na mesma rodada de apostas. Logicamente, é preciso estar fora de posição para aplicá-la, pois você dá check, espera a aposta, e volta um raise!

Qual a intenção?

1)Slowplaying – Com o check, você tentou mostrar fraqueza esperando uma bet, para assim aumentar o pote e extrair o máximo possível de fichas, já que está se sentindo confortável o suficiente para fazer isso com sua mão.

2)Semi-blefe ou Blefe Total – quando usamos o check-raise para simular força e, assim, possivelmente, ganharmos uma free-card ou decidirmos o pote ali mesmo, caso sua leitura esteja correta.

Slowplaying vs. Check–Raise

Slowplaying não é a mesma coisa que check-raising. O primeiro consiste em disfarçar uma mão num round de apostas, em detrimento de apostar forte no próximo round. Um slowplaying típico é dar check caso não haja apostas, ou apenas call em vez de raise. Em outras palavras, você não dá ação àquela mão além do necessário para continuar no pote, e não demonstra a força da mesma com suas atitudes.

Ao executar um check-raise, o que teoricamante (lembrem-se de usar a criatividade, pois o Hold´em de hoje não se limita às teorias do Sklansky) se quer é diminuir o número de oponentes, encerrando o pote como está. Também pode ser um slowplay que, com seu check, induziu o adversário a dar bet – algo que ele não faria, nem pagaria, caso você apostasse. Quando se executa o slowplay, busca-se manter o máximo possível de jogadores no pote, esperando atrair o máximo de apostas. Obviamente, levando em conta que você não está preocupado em ter muitos oponentes no pote ou em lhes permitir ver cartas gratuitas, é necessário ter uma mão extremamente forte – muito mais do que as que se usa o check-raise.

Quando utilizar o slowplay?

Eu não gosto de regra (e nem acho que exista) para jogadas agressivas. Mas, se você está começando no Hold´em, considero interessante entender os conceitos básicos, para depois usar sua criatividade e ir além dos livros.

Na maioria dos casos, para um slowplay ser correto, todos os fatores abaixo devem estar presentes:

1)Você deve ter uma mão muito forte
2)A carta gratuita ou barata que você está permitindo seus adversários ver deve ter grande possibilidade de dar a eles a segunda melhor mão.
3)A mesma carta gratuita deve ter uma chance mínima de dar a algum de seus adversários uma mão melhor do que a sua, ou uma queda para uma mão melhor do que a sua.
4)Você deve ter certeza de que irá expulsar seus adversários, caso mostre agressividade; mas ter uma boa chance de ganhar um pote grande caso não o faça.
5)O pote não deve estar muito grande ainda.

Slowplaying é uma maneira extremamente eficiente de ter um bom value para suas mãos fortes. Contudo, desde que você esteja dando cartas gratuitas a seus oponentes, deve utilizá-lo com cuidado. A princípio, é preciso ter uma mão forte. Não se deve executar o slowplay quando for óbvia a força da sua mão ou o pote estiver muito grande. Essencialmente, um bom slowplay ocorre quando o adversário consegue a mão que estava esperando fazer, mas ela é a segunda melhor. Ou seja: eles conseguem uma “queda morta” (drawing dead).

Com certeza, todos vocês já passaram por situações em que quiseram aplicar o slowplay!

Note que o slowplay é mais amplo do que o check-raise – o primeiro é o gênero do qual o último é espécie. No caso do check-raise pode-se usar muito a criatividade, seja para extrair maior valor do pote, aplicar um blefe forte ou, caso seja apenas pago, ganhar uma free-card. Acreditem, esse movimento acrescenta muita força ao seu jogo!

Existe ainda o slowplaying em posição, no qual você não tem nada e apenas espera um check, uma demonstração de medo do adversário, para então disparar uma bet e encerrar o pote, independente de suas cartas. Não resta dúvida de que essa é uma jogada ousada, que não está nos livros, e que depende muito de uma boa leitura da sua mesa para ser aplicada.

Pensem nisso.
Grande abraço!

Texto publicado na edição de Fevereiro de 2008 da Revista CardPlayer Brasil.