Como Dominar O Poker: Uma Prática Subjetiva

Por Renato Daidone17/03/2008

Muito tem se falado sobre as probabilidades matemáticas, estimativas e na infinidade de maneiras para executar esta ou aquela ação. Mas será que todos estão preparados para vencer?

Na tentativa de delinear uma opinião concisa e focada na prática, acho interessante traçar um paralelo entre a realidade subjetiva do jogo com algumas questões e propostas. Um ótimo exemplo são os costumes introspectivos do hinduísmo que, assim como no poker, transformam alguns pilares em alavancas para o sucesso.

Dentre os quesitos indispensáveis, o mais importante sem dúvida é a disciplina. Como em qualquer outra proposta, o hinduísmo também divide-se em alguns pontos de vista, que devem conduzir o seguidor ao samádhi (estado de iluminação). Na barafunda que é esta filosofia, encontramos ali um dos seis dárshanas (pontos de vista) de maior relevância para o ocidente e que conhecemos como Yoga. É exatamente este o comparativo que devemos traçar entre o Yoga e o Poker. Ambos possuem centenas de maneiras corretas de prática. Os dois possuem dárshanas totalmente distintos e corretos. Em ambos, os entendimentos dependem 99,99% da habilidade de cada um durante a prática. Neste momento, o incauto certamente dirá que estamos delirando, que o Yoga e o Poker são práticas subjetivas e que dependem de pré-disposição genética ou dom. Para estes a resposta é NÃO. Assim como na dança, no estudo do violino, na prática do jogo de poker ou no yoga, em nenhum momento precisamos de dom, pois são todos fundamentos, filosofias e práticas que só dependem de nossas próprias habilidades.

Até mesmo em sua definição universalmente conhecida, tanto o Yoga quanto o Poker são muito semelhantes. Enquanto o Yoga é qualquer metodologia prática que leva o praticante à iluminação, no jogo de poker a mecânica também funciona desta maneira. Não importa qual o seu ponto de vista com relação a esta ou àquela jogada, se você permitir-se e fizer as coisas de maneira correta, no longo prazo será vencedor no jogo de Poker, na prática de qualquer Yoga e em qualquer coisa na sua vida.

E quais as ferramentas que devemos incorporar à nossa politèsse para melhorar todas as nossas ações? Acredito que a dissolução do ego é a principal delas. Assim como no Yoga, onde o objetivo principal é atingir o samádhii (iluminação, hiperconsciência), no jogo de poker o objetivo é exatamente o mesmo. O jogo de Poker não é algo relacionado a “cartas” ou “fichas”, mas sim diretamente ligado a algo como “guerra entre egos”, “dissolução do moral” e outros atributos inerentes ao ser humano. Talvez por isso torne-se tão complexo e de difícil domínio, de aprendizado simples e tão instigante.

É bastante fácil ensinar alguns movimentos de Yoga para uma criança de cinco anos e em pouco tempo ela já saberá o necessário para praticar sozinha ou com os amigos. No poker é igual pois é possível ensiná-lo a qualquer pessoa normal em menos de uma hora. Mas, será que o nosso pequeno yogue conseguirá atingir o samádhi? Será que o entusiasta que acabou de aprender a jogar poker, será um grande campeão? A resposta é sim, mas o tempo que isso levará é uma grande dúvida.

Diante deste simples paralelo, afinal de contas, o que devemos fazer para realmente ganhar no poker ? Uma frase de Shivananda, conhecido mestre de Yoga, seria o bastante para definir: “…yoga é quando todos calam-se, sentam-se e começam a praticar. O resto é filosofia.”

Tenho certeza de que devemos levar isto para o jogo de poker. É claro que a leitura deve ser imprescindível, mas o verdadeiro poker é aquele onde todos sentam-se, calam-se e começam a jogar. Tenho um grande exemplo bastante próximo à mim. O Maurício, meu cunhado, nunca leu um livro sobre poker, me ensinou a jogar há cerca de três anos e, ainda hoje, é o mais forte entre os colegas. Será que, como Stu Ungar, atingiu a iluminação nas mesas? Espero que sim…

Renato Daidone
Jornalista
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