Doze Provérbios Sobre Blefes – Parte 2

Por Renzo Margotto

Na primeira parte vimos que só existem duas maneiras de vencermos uma mão: mostrando o melhor jogo ou fazendo o melhor jogo ser descartado.

Vamos agora ao segundo provérbio de Matt Lessinger:

“2. Se você nunca é pago, você nunca perde.

Muitos jogadores ficam obcecados com situações em que não são pagos quando têm uma mão forte. Eu vi alguns deles ficarem incrivelmente agitados quando tinham par de áses e só ganhavam só um pequeno pote. Eu espero que você não seja um desses. Está é uma reação ridícula por duas razões. Primeiro, sempre é melhor ganhar um pote pequeno que perder um grande. Segundo, em vez de priorizar o tamanho pequeno do pote, você deveria estar pensandoo significado dessa ausência de ação. Se você pôde ganhar de forma incontestada com seu AA, podemos logicamente imaginar que você poderia ter ganhado da mesma maneira com 72o. Se a momento for certo, e você pode jogar seu 72o da mesma maneira como joga seus monstros, não há nenhuma razão pela qual você não ganharia de maneira incontestada com 72o.

Este é um conceito especialmente vital em torneios, onde sobrevivência é palavra-chave. Você está ansioso por acumular fichas, mas isso não é tão importante quanto manter-se vivo. Se você puder ganhar potes pequenos constantemente sem luta, você evitará eliminação. A chave não é “não gerar ação em suas mãos boas”, mas evitar ação em quaisquer de suas mãos. Como você pode ser batido se ninguém o paga? Você tem que escolher os oponentes certos e o momento exato para ir ao ataque, levando pequenos potes de maneira incontestada sempre que possível.”*

Observando esses dois parágrafos, poderemos retirar dois conceitos básicos do poker (lembrando sempre que a obra é de 2005):

1. Transformar mãos médias/fortes em blefe

2. Poker de small ball ou potes pequenos

Vamos analisar cada um deles…

1. Lessinger diz que é possível jogar um 72o como se fosse um AA em certas ocasiões. O perigo de se jogar 72o como se fosse AA é o de você acabar fazendo exatamente o inverso por causa da agressividade, ou seja, jogar o AA, ou a mão forte, como se fosse um 72o.

Suponha que você tenha As-Ah no botão e um jogador LAG** tenha aberto raise no UTG para $120 nos blinds $20-$40. Você faz 3 bets, aumentando para $360 e ele paga. O flop mostra 6d-7d-8s e ele pede mesa. Você aposta 2/3 do pote e ele paga. O turn abre um 9d e ele pede mesa novamente. Nesse momento, preocupado com os draws, você resolve ir all-in e ele joga as cartas fora.

Com esse movimento, nosso vilão só pagaria com 55, 10-10, 10-J ou qualquer flush, ou seja, com uma sequência ou com um flush. Logo, caso o call fosse dado, ele estaria batendo mãos como AA, KK, 99-66 (trincas) e até mesmo um lixo como 23o. Logo, o movimento de ir all-in naquele momento, igualou o AA do nosso herói a um 23o. Ainda que ele tivesse uma trinca com 99, o movimento de ir all-in naquele momento também teria transformado a trinca dele em 23o.

A lição a ser tirada daqui é que o tamanho dos nossos bets, caso não sejam medidos adequadamente, podem transformar uma mão forte e com um ótimo valor de showdown num blefe.

2. O poker de potes pequenos está sendo anunciado como “nova moda”, mas se pegarmos publicações antigas veremos que ele já é jogado há muito tempo… Potes pequenos, em que nossos oponentes investiram poucas fichas, geralmente são levados com menos resistência. Por isso, jogadores que são bons no pós-flop gostam de manter os potes pequenos porque desta forma conseguem controlar melhor o showdown value de mãos mais marginais.

Vou repetir o exemplo do meu último artigo:

“Suponha que você esteja jogando heads-up contra um oponente tight-agressive. Você está no botão e ambos têm cerca de 100 big blinds. Você abre raise para 3 vezes o big blind com 9d-10d e ele paga. O flop abre 8s-5d-2c. Seu oponente pede mesa, você faz a continuation bet de 1/2 pote e ele paga. O turn mostra um 4h e vocês dois pedem mesa. O river abre um 7s e seu oponente pede mesa”.

Aqui a gente apostou e levou a mão, mas isso só foi possível porque o pote estava pequena e por causa da análise feita no artigo, que apontou o blefe como o melhor caminho para tentar levar o pote.

Suponha que o vilão tivesse Ah-Qs e que você tivesse feito uma nova aposta no turn de 1/2 pote e que essa aposta também tivesse sido paga pelo vilão. Nesse caso, o call do vilão o teria feito pensar que ele não tivesse overcards (quando na verdade tinha). Por isso, sua nova avaliação da mão no river provavelmente não indicaria o blefe como anteriormente. Muito provavelmente você concluiria que, pelo call no turn, seu oponente teria aberto o river para check-call e não check fold. O tamanho grande do pote contribuiria também para desestimular uma eventual tentativa de blefe porque você teria que envolver mais fichas ou até mesmo ir all-in para representar o 6.

Manter o pote pequeno te trouxe o melhor custo-benefício nesse caso. E vai ser assim na grande maioria dos casos porque mãos grandes são excessões no poker, ou seja, na grande maioria das vezes vamos mesmo é nos virar com mãos de showdown value duvidável e por isso manter os potes baixos nos protege mais, principalmente se vencemos muitos deles.