Heads Up

Por Raul Oliveira24/11/2005


Com certeza o heads up para mim é a modalidade do holdem mais difícil de ser explicada, analisada e entendida. Devido ao pequeno número de informações que você tem em uma mão, a leitura no heads up se torna muito complicada e, além disso, varia radicalmente de acordo com o seu adversário e, se tudo isso não bastasse, é onde a taxa de blefe é muito maior.


Eu particularmente gosto de jogar o heads up de forma bem agressiva, tentando encurralar o adversário e forcá-lo a esperar cartas boas. Deve-se tomar cuidado nesse estilo com os momentos em que as cartas não entram para você, mas entram para seu adversário. Se nessa hora você não recuar, o estrago será grande. Mas este é o meu estilo. Você deve procurar o que é melhor para você.

Gostaria de explicar de que forma costumo jogar o pre-flop nas seguintes situações:

Quando sou small blind

Na posição de small blind eu realmente não sou adepto a apenas completar o blind. Em 99% das vezes ou eu dou raise ou dou fold. Apesar de vários jogadores completarem o blind, essa jogada não me agrada e quase não a utilizo. Partindo desse princípio, toda mão que tenho:

-um Ás
-um par
-Duas acima de nove

Dou raise, já que estatisticamente são maos muito vantajosas no heads up. Além dessas mãos, os suiteds connects, como o 5c6c, 6s7s, 7d8d, 8h9h tambem são maos muito boas pelo seu poder de aposta, já que em varios casos você terá muitos outs no flop, o que incentivará você a jogar a mão de forma mais agressiva e consequentemente levar mais do que 50% das vezes.

Quanto ao Kx (K e um kicker baixo), apesar de estatisticamente ser uma mão vencedora no heads up, o seu poder de aposta é muito baixo e eu evito jogá-las, salve quando o Kx é do mesmo naipe.

Quando sou o Big Blind

Agora você está numa situação melhor, já que é o último a falar na mão, o que te possibilita jogar mais mãos do que na situação anterior. Nessa posição os casos acima citados passam a ser mãos pra se dar re-raise, e outros jogos que no small blind seriam fold passam a ser Call, por exemplo, um Js 6s ou um 10s 8h.

O que acontece no Big Blind é que o pot odds da mão passa a ser vantajoso, já que seu call no raise do adversário representa 25% do pot, fazendo com que na maioria dos casos seja o certo. O que sempre você tem que levar em consideração é que essa estatística parte do princípio de que as 5 cartas serão vistas por ambos, e é aí que volto a falar no poder de aposta das mãos.

Por exemplo um 9d 2s versus um As Ks – a probabilidade é a seguinte: AsKs (70%) e 9d 2c (30%). Pensando friamente na matemática, essa mão seria call no flop. Porém, analisando mais a fundo, percebemos que em 70% dos flops você já jogaria fora essa mão e mesmo que vire um par seu no flop 30% você ainda jogaria fora pelo menos uns 10% das vezes, o que já faria a relação mudar pra 80% e 20%, não passando mais a valer a pena.

É importante que sempre pensem, além da matemática fria, que no poker é preciso ir além dos números e conseguir contabilizar o poder da aposta do blefe e da intimidação – com certeza um dos motivos que faz do holdem um jogo tão fascinante.

Sobre o pós flop, teríamos um livro inteiro para falar sobre o assunto, mas gostaria de mostrar um exemplo onde utilizo o poder de aposta para tornar uma mão estatisticamente melhor.

Você está numa 20-40$ e é o small blind. Recebe um Ac 5c, dá raise e o big blind completa. O flop vem 9c 4s 2h. Você sai dando bet e ele te volta raise. E agora, o que fazer?


Se seu adversário não for um jogador muito tight, dê re-raise. Por que re-raise?


Se você der call no raise dele, estará jogando por um As ou um 3 para fazer sequência, o que lhe daria 7 outs em 47, mais ou menos 1-6, sendo que no pot teríamos 120$ e, caso você pague os 20$, teríamos 140$. Isso faria com que essa mão no longo prazo ficasse empatada.


Dando re-raise, além dos 7 outs que você continua tendo, você passa a jogar por um runner flush e o seu percentual de vitória sem abrir as cartas é muito grande, o que com certeza fará com que essa mão passe a ser uma mão vencedora. Vamos a análise:

• Caso ele esteja blefando – Provalvente completará seu re-raise e não virando uma de suas cartas (6 outs) ele jogara fora.

• Caso ele tenha um draw, por exemplo um 5 3, A 3 ou mesmo A5 – nesses casos ele apenas acompanharia sua aposta e, caso não virasse sua queda, ele abandonaria no river a mão.

• Caso ele tenha o 2 ou o 4 – o turn provalvelmente vai ser a teu favor, já que qualquer carta alta vai intimidá-lo devido ao seu re-raise. Pode ser que ele pague a mão até o final, mas mesmo assim você terá 40% de ganhar a mão com os draws que possui. É bem provável que ele abandone a mão.

Só para visualizarmos, imaginemos que ele tenha um Jd 2d e o turn e o river sejam carta ruins pra ele.


Entao teríamos

Flop 9c 4s 2h
Turn 9c 4s 2h Qs
River 9c 4s 2h Qs Kc

Convenhamos que, com esse board, você de J-2 pagar o river não é uma boa jogada, e isso fará com que seus 40% subam para pelo menos um pouco mais do que 50%.

• E, por último, caso ele tenha o 9este é o pior caso, claro, mas antes de falar dessa situação, gostaria de explicar que meu re-raise é baseado em que se ele tivesse o 9 raramente ele te dobraria no flop, e sim aguardaria o turn pra te dobrar na aposta cara, já que teria o top pair e um flop muito favorável. Mas considerando que ele tenha o 9, provalvente ele te dará o último raise no flop. Você deve completar, já que o pot odds é favorável para você nesse momento. E caso não vire um dos seus 7 outs, você abandona a mão no turn.

No próximo artigo vou falar sobre o Heads Up No Limit que, por incrível que pareça, é ainda mais difícil do que esses casos.


Espero que tenham gostado e que este artigo possa ajudá-los.


O que é sempre bom frisar é que se o holdem já é um jogo subjetivo, o Heads Up do holdem é muito mais. Então, o importante é agregarem conceitos e pontos de vista para que seu jogo sempre cresça e a partir deles desenvolvam um estratégia e um estilo proprio.


Existe um tópico no fórum que trata sobre este assunto. Deixe o seu recado lá, escreva sobre as suas estratégias no Heads Up.


Um grande abraço.


Raul Oliveira