Leitura de Mãos

Por Raul Oliveira07/09/2005


Um assunto muito importante e muito difícil no poker é a leitura de mãos, ou seja, a linha de raciocínio que se deve ter para tentar adivinhar ou, pelo menos, supor melhor a mão do seu adversário. Como é uma questão muito subjetiva e complicada de se elucidar, vou tentar ajudá-los contando algumas mãos onde pude concluir o que meus adversários tinham nas mãos através de suas atitudes.


Vamos a alguns exemplos que ocorreram comigo na 30-60$, em short hands, mesa que tem entre 3 e 6 jogadores. Nas jogadas a seguir o termo UTG (UNDER THE GUN) significa “o primeiro jogador a falar”.

Mão 1

Mesa com 5 jogadores. Eu era o UTG e vim com 9 9. Dei raise, o jogador seguinte re-raise e toda mesa fold. Eu só completei.


O Flop veio A K 8.


Eu, de UTG, dei check e meu adversário apostou. Eu dei raise para testá-lo, já que o flop poderia ter sido muito ruim para ele (caso ele tivesse um par de baixo ou não tivesse ouros). Além disso, eu tinha uma defesa, já que meu 9 era de ouros. Ele só completou meu raise. No turn virou um 3. Eu apostei e ele deu raise. Agora sim eu podia fazer uma leitura do que ele tinha na mão.


Por ter apenas completado meu raise na aposta barata e ter me voltado na aposta cara, ele devia ter uma mão forte, como AA KK AK AQ, sendo a dama de ouros, ou 88. Por que não achar que ele pode ter um flush? ,Porque ele me deu re-raise no pré-flop e tanto o A quanto o K de ouros vieram no flop, diminuindo muito a chance dele ter flopado flush.


Após essa leitura, eu completei o raise, já que ouros poderia me salvar. E foi o que aconteceu: virou um 7 de ouros no river e eu dei check. Ele apostou e eu dei raise, já que jogava apenas contra o AQ e em todos os outros casos eu levaria a mão. De fato eu acertei a leitura e levei a mão – ele tinha A K de copas.

Mão 2

Mesa com 4 jogadores. Eu era o delaer com Q J. O UTG deu raise, eu dei call e o big blind também completou.


O flop veio A 4 4, me dando queda de flush. O big blind deu check, o UTG apostou e eu dei raise, tentando ter o controle da mão, por ser o último a falar. Mas o big blind completou meu raise e em seguida o UTG também completou. No turn virou um 2, me dando um flush. Nessa hora o big blind saiu dando bet, o UTG pagou e eu voltei raise. Os dois completaram. No river virou um outro 2, os dois deram check e eu cometi um erro – apostei. O big blind me voltou, o UTG jogou fora e eu paguei. Estava certo de que perderia, mas pelo pote já estar muito grande, não poderia nem consegui passar. De fato, ele tinha um 4 na mão e fez full house.


Agora vamos a leitura que eu deveria ter feito. O que ele poderia ter na mão pra ter dado bet no turn? Voltemos ao pré-flop. Como ele só completou o raise, podemos descartar que ele tenha AK AQ AJ. Logo, ou ele tinha um A e x , ou não tinha o A, que era o mais provável, já que numa mão como essa dificilmente um A e x sairia apostando pela agressividade da mesma. Então se ele não tinha um A, ou ele tinha um flush também ou ele tinha um 4, que era o mais provável, já que eu tinha um flush.


É normal que um jogador que tenha um jogo forte, como uma trinca no flop, se sentir ameaçado com a 3ª carta de um naipe e antecipar a aposta evitando que a mão rode em check e possa virar uma 4ª carta do mesmo naipe, tirando completamente a força da trinca.


Nesse caso, como eu disse, eu errei a leitura na hora e perdi 120$.

Mão 3

Novamente numa mesa com 4 jogadores, eu era o dealer com A K. O primeiro a falar entra de call na mão, eu dou raise, o small blind re-raise, o UTG completa e eu dou 4 bet sendo pago por ambos.


O flop veio K 2 3.


O small blind sai apostando, o UTG paga, eu dou raise, o small re-raise, o UTG paga novamente e eu, mais uma vez, dou o 4 bet, pago por ambos. No turn vem um 6. O small blind dá check, o UTG aposta, eu dou raise, o small blind passa e ele me dá re-raise, deixando claro o que tinha na mão. Eu mais uma vez não consegui passar, por estar num pote enorme, completei o bet e só paguei o bet no river, mesmo tendo virado um K, me dando uma trinca.


Vamos a leitura dessa mão. O UTG entrou de call na mão, o que possibilita que ele tenha tanto um par baixo, quanto cartas conectas. Mas devido ao fata de a mão ter sido extremamente violenta no preflop e no flop e ele ter apenas acompanhado, podemos imaginar que ele tinha um draw (queda) ou uma trinca. Caso ele tivesse uma trinca no turn, ele provavelmente daria check para aplicar um check-raise. Mas ele jogou bem e antecipou a apostas no turn sabendo que tinha grande chances de ser dobrado. E foi o que aconteceu. Quando ele me redobrou, ficou claro pra mim que ele tinha um 4 5. Paguei acreditando apenas no milagre de eu ter pego um louco na mesa e, claro, porque o pote estava enorme a essa altura.


Dessa vez acertei na leitura, mas torci para estar errado.


O mais importante na leitura de mãos é que quando for tentar deduzir o que seu adversário tem na mão, primeiro identifique o estilo de jogo dele e depois volte sempre ate o pré-flop e perceba como ele agiu ate o momento em questão. Pode parecer difícil, mas praticando esse raciocínio você vai começar a acertar várias vezes o que seus oponentes têm na mão. Quanto mais você acertar, menos vai errar e, conseqüentemente, mais dinheiro vai ganhar.

Um grande abraço,


Raul Oliveira